sábado, 23 de abril de 2016

O botão no nariz.

Adorava ir ao quarto do meu tio Artur. Ele tinha um amigo chamado Roberto que sempre me trazia um saquinho branco de papel, cheinho de balas Toffe. Eram embalagens azuis com letras douradas.
Mas meu tio fazia brincadeiras engraçadas e muitas mágicas.
Lembro de objetos que sumiam entre os cabelos e moedas que iam de uma mão para outra . Até hoje não sei se eram mágicas ou simplesmente enganação infantil.
Mas tinha uma brincadeira que me fascinava : ele colocava um grande botão no nariz  e ele o fazia girar conforme a respiração.
Um dia fui tentar imitar a façanha, só que peguei um botãozinho pequeno com um pezinho e coloquei no nariz. Aspirei o botão e aquilo virou um circo dos horrores.
Só lembro de meu pai me pegando no colo e saindo correndo na farmácia da Rua Barão de Jaguara , acordando o farmacêutico para tirar aquele botãozinho do meu nariz.
Ele veio com uma pinça enorme, cheio de algodão e conseguiu tirar "a mágica de meu nariz".
Saiu muito sangue e lembro que meu pai comprou um pirulito para mim.
Outro acidente que me lembro foi no sítio do meu Tio Lúcio em Nova Lousã.
Íamos bastante para lá e eu adorava ver os bichos no pasto, brincar na terra, andar de carroça puxada por cavalos.


Passeio de carroça com minhas primas e minha mãe.
                                          Nova Lousã : Meus primos e minha mãe segurando a Cibéle


Eu devia ter uns 5 anos. Minha tia Angelina acordava todas as crianças muito cedo, dava uma caneca de ágata para cada uma, com bastante açúcar e canela e íamos numa fila para o pasto pois meu tio tirava leite da teta da vaca e tínhamos que tomar ali mesmo.
Cada criança ia embaixo da vaca ,colocava a caneca sob a teta enquanto meu tio fazia a ordenha. E num dia depois de voltarmos para casa, vi que havia um cavalo no pasto com um filhote.
Minha curiosidade para ver o cavalinho me fez voltar ao pasto. Só que havia uma cerca de arame farpado e ao atravessar rasguei meu joelho com dois enormes cortes.
Voltei chorando e lembro da calma de meu tio Lúcio, que era maçom, me pegando no colo e muito calmamente conversando comigo.
Fomos para um galpão de madeira, anexo à casa. Lá ele preparou um material de curativos, depois me sentou nos seus joelhos e com uma agulha enorme, que várias vezes ele queimava num foguinho azul , foi costurando meus cortes.
Não lembro de ter sentido dor nenhuma, pois a calma dele, com uma conversa cujo teor não me lembro, me dava confiança.
Tenho a cicatriz até hoje!
Marcas de minha infância ......


                          Minha prima Nene de Nova Lousã nos visitando na Rua dos Alpes .
                                Meu tio Lúcio, eu, Nene, Cibéle















Nova Lousã: Cibéle dando uma voltinha no cavalo.

Outros passeios. E uma bruxa assustadora.


                                           Meu pai e eu no Museu do Ipiranga
                             

Outros passeios de finais de semana eram ir ao Museu do Ipiranga e também ao Aeroporto de Congonhas. Eu adorava ver os aviões chegando e decolando. Ficava imaginado viagens pelo mundo e queria ser aeromoça.

Agora, um dos passeios preferidos era quando íamos ao Parque Shangai. Ficava muito perto de minha casa e nós íamos a pé. Sempre achei que era bem atrás de minha casa mas não tenho muita certeza. 

Eu adorava o carrossel e a roda gigante mas algo me assustava: a enorme bruxa que gargalhava e ficava bem no alto dentro de uma redoma.

Minha mãe e meu pai diziam que se eu não obedecesse, a bruxa viria até a minha casa me pegar. 
Outra coisa que me apavorava era o homem do saco.
Achava que o homem barbudo, que vagava pelas ruas com aquele enorme saco nas costas, levava todas as crianças malcriadas dentro daquela coisa ...