Vovó Esther tinha residência em Mogi das Cruzes mas morou em nossa casa por uns tempos e de vez em quando se revezava na casa dos filhos para ajudar com as crianças. A Vó foi parteira de quase todos os netos. Somente não pegou os últimos e os da tia Dirce, que tinha
Vovó Esther, mamãe, Cibéle e eu .... |
e comidas fortalecedoras da saúde. O pouco conhecimento que tenho sobre isto foi herdado dela e até hoje ainda preservo o uso de algumas ervas.
Uma vez por ano ela fazia uma fila com todas as crianças da família, dava um pregador de roupas
Mogi das Cruzes- Casarão da avó Esther- Vista parcial |
a cada uma para colocarmos no nariz e "entuxava" uma colher de óleo de rícino para tirar a verminose.
ovos de pata e mentruz de sua horta medicinal. Ela batia no liquidificador os ovos, a mentruz,
Todo mês ela dava emulsão Scott, um vidrinho com rótulo azul com a figura de um pescador carregando uma vara nas costas com um grande peixe pendurado. Era óleo de fígado de bacalhau. Só a visão do vidrinho era suficiente para me fazer esconder atrás do sofá ou dentro da banheira.
Avó Esther era uma figura doce e meiga apesar de ser teimosa e turrona, mas tinha o poder do convencimento entremeado com suas histórias de castelos e princesas.
Lembro bem de que quando era preciso dar as suas "poções de saúde", ela sempre justificava o gosto ruim com lindas estórias e nos convencia com ilusões e promessas que nos tornaríamos tão fascinantes como aquelas personagens.
Por exemplo, ela sempre nos dava um pozinho chamado ruibarbo e dizia que aquilo era uma maquiagem. Falava que as princesas, ao invés de usarem "rouge", tomavam aquilo para terem suas faces coradas naturalmente.
Outro fortificante que nos dava (mas este era gostoso) vinha acompanhado da estória dos índios.
Ela pegava um tronquinho de guaraná, desbastava com um pequeno ralador e misturava o pó que
Avó Esther era uma figura doce e meiga apesar de ser teimosa e turrona, mas tinha o poder do convencimento entremeado com suas histórias de castelos e princesas.
Lembro bem de que quando era preciso dar as suas "poções de saúde", ela sempre justificava o gosto ruim com lindas estórias e nos convencia com ilusões e promessas que nos tornaríamos tão fascinantes como aquelas personagens.
Por exemplo, ela sempre nos dava um pozinho chamado ruibarbo e dizia que aquilo era uma maquiagem. Falava que as princesas, ao invés de usarem "rouge", tomavam aquilo para terem suas faces coradas naturalmente.
Outro fortificante que nos dava (mas este era gostoso) vinha acompanhado da estória dos índios.
Ela pegava um tronquinho de guaraná, desbastava com um pequeno ralador e misturava o pó que
se formara com água e um pouquinho de açúcar. Depois disso, colocava as frutas meticulosamente sobre a mesa e dizia que aqueles "olhinhos" da fruta iriam nos observar até tomarmos o último gole. Para coroar a ação, arrematava falando que os índios nunca ficavam doentes pois todas as manhãs tomavam a mesma coisa e aqueles "olhos" faziam com que tivessem uma visão aguçadíssima para
caçar e enxergar bem longe.
Fruto do guaraná Quando tínhamos uma gripe muito forte ela preparava.. uma garrafada. Ia até Mogi para pegar |
Biotônico Fontoura e leite condensado. Isto era dado às colheradas durante o dia.
À noite ela preparava uma canja forte, feita com muitos pés de galinha, pois dizia que nos pés das galinhas existia uma gelatina que fazia nossa pele ficar bem lisinha e sem rugas. Quando a canja ficava pronta nos sentávamos à mesa e meu pai enchia uma concha com vinho tinto e colocava a medida em cada um dos pratos, pois era fortificante.
Sem contar as gemadas matinais que eram preparadas cuidadosamente com uma gema batida com açúcar, canela e uma taça de vinho do Porto. Dizia que o segredo da gemada era bater muito as gemas com o açúcar até ficarem bem branquinhas, só depois acrescentava-se os ingredientes e de vez em quando ela colocava umas casquinhas de limão raladas.
Quando tivemos "coqueluche" (tosse comprida), ela nos agasalhava bastante, com gorro e luvas e íamos a pé da casa da velha até o outro lado da Avenida do Estado, pelos lados do Gasômetro, onde tinha um reservatório de gás. No pátio havia uma estrutura metálica redonda imensa, cujo centro se movimentava para baixo, como um grande pistão e conforme ele abaixava o cheiro de gás se espalhava no quarteirão. Segundo a vó, respirar aquele cheiro de gás por um tempo, curava a coqueluche. Havia muitas crianças por lá com bronquite e outras doenças respiratórias.
À noite ela preparava uma canja forte, feita com muitos pés de galinha, pois dizia que nos pés das galinhas existia uma gelatina que fazia nossa pele ficar bem lisinha e sem rugas. Quando a canja ficava pronta nos sentávamos à mesa e meu pai enchia uma concha com vinho tinto e colocava a medida em cada um dos pratos, pois era fortificante.
Sem contar as gemadas matinais que eram preparadas cuidadosamente com uma gema batida com açúcar, canela e uma taça de vinho do Porto. Dizia que o segredo da gemada era bater muito as gemas com o açúcar até ficarem bem branquinhas, só depois acrescentava-se os ingredientes e de vez em quando ela colocava umas casquinhas de limão raladas.
Quando tivemos "coqueluche" (tosse comprida), ela nos agasalhava bastante, com gorro e luvas e íamos a pé da casa da velha até o outro lado da Avenida do Estado, pelos lados do Gasômetro, onde tinha um reservatório de gás. No pátio havia uma estrutura metálica redonda imensa, cujo centro se movimentava para baixo, como um grande pistão e conforme ele abaixava o cheiro de gás se espalhava no quarteirão. Segundo a vó, respirar aquele cheiro de gás por um tempo, curava a coqueluche. Havia muitas crianças por lá com bronquite e outras doenças respiratórias.
Antigo Gasômetro, entre o Cambuci e o Brás Até hoje não compreendo a ligação científica/ intuitiva disto, mas sei que a nossa tosse comprida fora curada. |
Uma vez por semana éramos obrigadas a comer bife de fígado. Intragável até hoje , para mim.
Mas tínhamos que comer, disfarçado com tomates, cebolas ou embutido em alguma outra comida . Quando tínhamos febre ela colocava cebolas em rodelas grandes e amarrava com lenço em nossos pés depois de banhá-los em uma bacia com água quente e sal.
Para dor de cabeça e também para a febre ela fazia uma bandana com várias rodelas de batata e colocava em nossas testas e na fronte.
O famoso chá de "cipó cruz "que até hoje tomo e que cura as minhas enxaquecas, era um depurador do fígado e do estômago . Amargo mais que fel , ruim demais , mas um santo remédio.
Quando íamos para Mogi na sua hortinha medicinal, ela nos dizia que as mesmas ervas que curam também podem matar.
Ela frisava muito a diferença na colheita da erva "cipó cruz ",pois era facilmente confundida com a cicuta e nascem muito próximas umas das outras.
Pena eu não ter escrito ou registrado todo este conhecimento empírico de minha vó. Era uma grande conhecedora da medicina e da cosmética natural. Ela, particularmente, nunca usava remédios. Quando tinha que tomar algum medicamento prescrito pelos médicos e obrigada pelas filhas, ela ficava furiosa. Fazia de conta que tomava e mamãe ou Yayá encontravam todos os comprimidos em seus bolsos das roupas.
Ela guardava todas as cascas de frutas e legumes e muitas vezes pela manhã encontrávamos a vó com todas estas cascas no rosto.
Um dia era mamão, no outro pepino e assim ia ....
Quando as crianças nasciam ela fazia uma pasta com clara de ovo e passava nas cabecinhas dos recém nascidos e colocava uma touca apertada. Dizia que aquilo era para deixar a cabeça bem redondinha e não com aquela cabeça chata de "nordestino".
Ela sabia exatamente os alimentos que lhe faziam mal.Ela tinha bronquite e reumatismo. Dizia que quando chupava laranja lima aquilo lhe provocava as dores do reumatismo ou quando tomava muito leite sua bronquite atacava.
O único remédio que ela tomava era o famoso Beserol que tirava as suas dores reumáticas.
Mas só aceitava tomá-lo quando a dor era insuportável.
Minha avó não tinha varizes nas pernas e sua pele era muito lisa e macia como um pêssego.
Sei que esta sabedoria curava muita gente e sinto ter perdido este conhecimento.